VISÕES DA BENIN COPPER
A primeira vez que entrevistei Eliseu Serpa foi em seu estúdio em Xangai. O estúdio foi construído no interior de um galpão da época em que toda a província de Jiangsu proliferava com a construção das linhas de trens-bala que ligariam portos da China ocidental aos isolados planaltos da Colina dos Gritos. Serpa me recebeu trajando um terno-macacão que contou com orgulho ter sido feito pela sua própria esposa. A vestimenta lhe dava a aparência de um embaixador saído de algum seriado antigo de ficção científica, deixando à mostra o pescoço e os braços cobertos por videoskin, onde animações são exibidas dia e noite; seu nariz, largo e aquilino, e o olho direito praticamente cego lhe dão um ar bárbaro e nobre ao mesmo tempo. ‘(As pessoas) Juram ter me visto em algum retrato de Rembrandt’, ele conta, sorvendo uma xícara com chá de flor de laranjeira.
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Há 7 horas
Os rendimentos são mais altos hoje nos mercados de títulos globais do que há dois anos, oferecendo um potencial de renda maior. Leia o significado disso para investidores em títulos em nossa mais recente percepção de estratégia para a renda fixa.
Serpa nasceu em Ouro Preto, lá vivendo até os cinco anos, quando seus pais morreram em um acidente de ônibus. Adotado por um casal de dinamarqueses, ele se mudou com a nova família para Copenhagen. No início da fase adulta, trabalhou como soldador, enquanto cursava arte e novas mídias na Escola de Artes Københavns. Viajou durante três anos pela América do Sul e Europa, indo a lugares tão longe como Machu Pichu e Davos, cidade que sempre lhe fascinou. Aos dezenove anos realizou a primeira exposição, sendo a obra mais conhecida deste período ‘A Montanha’, uma instalação inspirada nos presépios que viu em Minas Gerais e na Suíça (a obra possui uma cena natalina, as figuras da Sagrada Família constituídas a partir da bactéria da tuberculose, que desemboca direto em um inferno de Bosch dominado pela carcaça de um Panzer rodeada por manequins vestidos com uniformes da Primeira Guerra). Junto a Anselm Koga, Gemma Cervetto, Herman Roilos e Maria Marie, Serpa fundou a Secessão de Port Watson, coletivo de artistas que na Bienal de Antananarivo foi apelidado de a ‘Geração Fendida’. Lá, Serpa apresentou ‘Tropicalismo Nervoso Controlado’, considerada sua primeira imersão no mundo das performances. Nesse trabalho, documentado através de fotos, vídeos e lives, ele se conectou via wireless a uma samambaia, emitindo nutrientes decodificados do próprio corpo para a planta.
Hoje, com trinta e sete anos, Serpa tem a aparência de um mecânico que prosperou no mercado imobiliário. À primeira vista é fácil se surpreender com seu modo calmo e a voz grave e apaziguadora. Quando se expressa, move as mãos parecendo manipular um brinquedo delicado entre os dedos.
THYARS E PICO-INFLUENCIADORES QUE PODEM AJUDAR A PROMOVER ARTE PARA A NOVA GERAÇÃO
Entrevistador: Sente falta do Brasil?
Serpa: Não sei se é bem sentir falta, porque saí de lá ainda guri. Minha identidade com o Brasil é uma espécie de membro fantasma. Ou pátria fantasma. Meus documentos falam uma coisa, mas quando vejo uma bandeira do Brasil ou simplesmente ouço a palavra é como se eu fosse puxado por uma corda presa na minha cintura pro outro lado do mundo.
Entrevistador: Me fale sobre a cidade em que nasceu.
Serpa: Ouro Preto é uma cidadezinha no meio das montanhas. Imagine uma Davos construída por mãos negras. É Ouro Preto. A cidade é histórica, mas alteraram ela tanto nos últimos anos que nem sei mais… O teleférico que une a rua Direita à Praça Tiradentes, por exemplo… aquilo não passa de terrorismo em forma de arquitetura.
Entrevistador: Você pensa muito em Ouro Preto?
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Há 10 minutos
O comércio internacional sofreu com o desenrolar da guerra comercial entre a China e o Cinturão Africano. Enquanto isso o crescimento global estagna. Veja nossas projeções para o próximo bimestre.
Serpa: Digamos que tem dia que acordo com o cheiro do mofo ouro-pretano nas narinas.
Entrevistador: Sua obra ‘A Montanha’ tem algo dessa relação Davos-Ouro Preto que você mencionou?
Serpa: Tem. A primeira vez que visitei Davos senti de imediato uma comunhão entre as duas cidades: o isolamento, as montanhas, o turismo como burro de carga… Essa sensação se tornou uma coceira depois que li ‘A Montanha Mágica’. Arrisco dizer que a vida de Hans Castorp pode ser facilmente transportada pro refeitório da Escola de Minas.
Entrevistador: A montanha de ‘A Montanha’ é a de Thomas Mann?
Serpa: Em certos aspectos, como no bacilo de Koch que usei nos moldes da Sagrada Família, ou nos manequins com uniformes do Exército Austro-Húngaro. A Sagrada Família tem um forte apelo para mim. Me permite explorar conceitos que estou sempre estudando, como migração e fuga. Os uniformes dos soldados foram costurados por ex-trabalhadores encontrados como escravos numa fábrica da Hèrmes. Eles agora possuem sua própria linha de confecção, e a camaradagem deles me lembra meus tempos de Port Watson.
Entrevistador: Você vive em Shangai há quase três anos. Algum motivo especial?
Serpa: A luz. Sou um tipo de hábitos diurnos. Em Shangai, mesmo à noite, parece dia. É tanto arranha-céu, tanta lâmpada que no lusco-fusco a cidade chega a ser mais iluminada.
Entrevistador: Gostaria de saber um pouco mais sobre seus primeiros anos. Você estava no ônibus quando seus pais se acidentaram?
Serpa: Não, eu estava em casa com a babá. Lembro que quando ligaram para dar a notícia, a TV exibia os ataques ao Cristo Redentor. Hoje, sempre que penso na morte dos dois, me vem a imagem de um ônibus colidindo contra o Cristo.
EVIDÊNCIAS DE DESVIO DE VERBAS PODEM ATRAPALHAR CONSTRUÇÃO DO NOVO COMPLEXO DO CORCOVADO. GOVERNADOR PAIVA NEGA ACUSAÇÕES.
Entrevistador: Como começa uma nova obra?
Serpa: Depende. Pode ser uma memória, algo que li ou apenas uma nuvem diferente. Tudo pode servir de ignição. Alguns criadores tendem a ser cutucados por palavras, cheiros, sabores, ou qualquer outra tara. No meu caso são imagens. Um fragmento que seja, de foto ou vídeo. Se houver algo suculento ali, destrincho até chegar ao nervo.
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Há 2 horas
Os fatores de renda fixa estão em período de expansão no comparativo com ações, mas certamente há um impulso crescente para os investidores buscarem algo novo.
Entrevistador: E a partir daí?
Serpa: A partir daí é puro deslinde. Circulo em busca do que pode ser explorado. O processo me diverte bastante. Me lembra antigos jogos de estratégia, como Age of Empires: o mapa ao redor está todo escuro e à medida que se avança as possibilidades vão surgindo.
Entrevistador: Há várias imagens aqui no seu estúdio…
Serpa: E elas são cruciais. A vida toda me rodeei de imagens. Me lembro de recortar figuras de revistas e jornais e colar elas na parede do quarto. Brincava de colagem, apesar de na época nem fazer ideia do significado dessa palavra. Hoje em dia é igual. Não só aqui, como no estúdio que tenho em Nusa Penida, eu vivo rodeado de imagens. Pra onde virar, tem algo pra prender minha atenção.
Entrevistador: Como foi sua experiência como soldador?
Serpa: Em que sentido?
Entrevistador: Se essa experiência exerceu influência na sua poética.
Serpa: Influenciou no ponto em que eu me via como um Richard Serra, envolvido num trabalho de colarinho azul pra pagar os estudos. Mas diferente dele, o que eu vivi nas fábricas não gerou nenhum abcesso artístico.
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Entrevistador: O trabalho em fábrica não é visível de maneira alguma em suas obras?
Serpa: No processo, talvez. Mas esteticamente não vejo nada daquela época na minha obra.
Entrevistador: E foi quando você fugiu de casa…
Serpa: Eu diria ‘manter distância’. Por mais que eu viajasse, sempre fiz questão de deixar meus pais adotivos cientes de onde eu estava. Apesar de nem sempre dizer pra onde eu ia.
Entrevistador: Por quê?
Serpa: Eles achavam que eu ia assumir os negócios da família. Ou que eu fosse estudar Direito.
Entrevistador: Você não cursou Direito, mas cursou Medicina em Berlim…
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Há 3 horas
Naor Saavedra, nosso Gerente de Portfólio, explica por que a volatilidade do mercado foi tão severa, mesmo com o crescimento moderado.
Serpa: Por um tempo. A faculdade era gratuita e eu tinha mais interesse pelas aulas de anatomia e pela Love Parade (risadas). Mas foi um momento importante na minha carreira. Eu havia graduado na Københavnsn e estava à procura do meu caminho. Não que eu estivesse perdido. Eu sabia que meu negócio era arte. Precisava só descobrir quais mídias seriam mais úteis pra mim, pra minha caixa de ferramentas.
Entrevistador: Como o nomadismo entrou em sua vida?
Serpa: Desde a morte dos meus pais, eu acho. Minha ida pra Europa foi uma espécie de duplo aborto. Saí dum país arrebentado pra outro onde tudo funcionava como um relógio. E foi essa perfeição que me fez sair da Dinamarca. Há liberdade lá, mas do tipo pasteurizada. Respeito os dinamarqueses, mas parece que todos eles foram paridos por tanques pressurizados. Pouco antes de sair de lá, li ‘O Gene Paleolítico’. Esse livro foi uma revelação pra mim. Rimbaud, Gauguin, Van Gogh, Kerouak… muitos artistas seguiram o nomadismo, esse ideal de encarar a fuga como um bilhete, como uma inconstância arejadora. O objetivo não é sair e ver o outro, mas viver o outro. Eu na verdade sempre senti ser esse outro.
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Há 30 minutos
Esperamos que o #cinturaoafricano recupere taxas de crescimento ainda este ano, ajudado pela robusta atividade doméstica. Esta opinião é apoiada por um aumento da zona de influência do neokwacha.
MERCADO MALGAXE FRATURADO ENQUANTO GOLPE ESTOURA EM ANTANANARIVO
Entrevistador: Foi nessa época que você começou a se dedicar a performance? Alguma razão especial para isso?
Serpa: Com a performance, eu podia me locomover pra onde fosse com a única mídia necessária: meu corpo. Foi libertador. Como havia programas de residência em qualquer lugar da Europa, da África e da Ásia, eu pulava de universidade em universidade, iniciando colaborações com gente de áreas que jamais pensei em trabalhar junto. Uma das experiências mais ricas ocorreu no Departamento de Aquacultura da Universidade de Antananarivo. Lá desenvolvi estas guelras para a performance ‘Ítaca ao Microscópio’.
Entrevistador: Essa performance deu início ao seu mais recente trabalho, ‘Peixe Grande Espera os Pequenos’, certo?
ARTE: NOVO TRABALHO DE ELISEU SERPA EVOCA O MERCADO DE AÇÕES
Serpa: Isso.
Entrevistador: Pode falar um pouco sobre ele?
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29 de abril
Tensões regionais levam à bancarrota da Benin Copper e Malaysia Lithium Energy, duas gigantes da mineração. Nossos analistas anteviram suas causas e explicam o porquê delas em detalhes.
Serpa: Pra desenvolver ‘Peixe’, me inspirei nos povos da Mesoamérica que utilizaram da trepanação como instrumento de arte divinatória. Eles acreditavam que a exposição do cérebro permitiria que os sussurros de Gukumatz, um deus mediador entre os cosmos, chegassem com mais facilidade ao iniciado. O que fiz foi implantar dois feed-drives em meu cérebro, um em meu lóbulo frontal, outro no lóbulo temporal. Os dois são alimentados constantemente com dados da Bolsa de Shenzhen, Nasdaq e Nova York. Os dados interagem em sincronia com fragmentos de poesias soviéticas, que percorrem minha retina graças a um aplicativo randômico. As citações e gráficos que crio durante a performance são outputs dessa interação.
Entrevistador: Neste trabalho houve parceria com alguma universidade?
Serpa: Os artefatos foram produzidos por mim e dois engenheiros da Universidade de Oulu. Já a cirurgia pra implantá-los foi feita num hospital na Cidade do Cabo. O procedimento foi transmitido ao vivo para usuários de cinco redes sociais, além de um telão instalado no meio da Pasar Baru, em Jacarta. Parece até que houve apostas.
Entrevistador: Apostas?
EQUIPE DE ENGENHARIA MORRE SUFOCADA DURANTE INCÊNDIO EM UNIVERSIDADE NA FINLÂNDIA. CAUSAS DO INCÊNDIO AINDA DESCONHECIDAS.
MEMBROS DA MÁFIA ASSASSINADOS EM REBELIÃO NO PRESÍDIO DE BARLINNIE
Serpa: Para ver se eu ia ou não sobreviver. Foi uma cirurgia delicada. Os médicos fizeram incisões no meu cérebro, então o risco de erro era grande.
Entrevistador: E é verdade que esta obra lhe permite prever mudanças no mercado de ações? Alguns executivos financeiros afirmam que você anteviu em semanas flutuações que levaram duas mineradoras da África à falência.
Serpa: Pura loucura. Concorda que se fosse possível criar algo assim, já teria sido criado há tempos?
Entrevistador: Mas você entrou no mercado de ações, não entrou?
GALERIAS LONDRINAS NÃO PRECISAM MAIS PAGAR ROYALTIES A ARTISTAS NAS VENDAS NO MERCADO PRIMÁRIO.
Serpa: Há alguns meses.
Entrevistador: E fez uma fortuna em transações nesse pouco tempo.
Serpa: Veja bem, está havendo uma confusão. Quando fiz as pesquisas para ‘Peixe’, tive de estudar o mercado de ações. Acontece que tomei gosto e comecei a fazer meus próprios investimentos. Ganhei um dinheiro, mas não foi me aproveitando dos artefatos desta obra.
Entrevistador: Enriqueceu analisando flutuações que nem as IAs da Nasdaq ou da Bolsa de Solis Lacus perceberam. Como explica isso?
Serpa: Coincidência. Coincidência e um pouquinho de intuição artística. Alguns afirmam que criei uma obra que está acelerando o capitalismo com o objetivo de chegarmos a uma luta de classes. Tudo isso por quê? Porque fundi códigos de ações com estrofes de Maiakovski. Um repórter do Spiegel me perguntou outro dia se eu tenho acesso a informações privilegiadas. Fico imaginando se Joyce ou Schwitters passaram por tal importunação.
Entrevistador: Mas você foi sondado para ser consultor da StoneTusk, uma das maiores gerenciadoras de investimentos do mundo, não?
POR QUE A STONETUSK QUER PAGAR A UM ARTISTA £ 7.000.000 SEMANALMENTE
Serpa: De maneira alguma.
DISTÚRBIOS ÉTNICOS EM LUSAKA: COMO A QUEBRA DA BENIN COPPER DESEMPENHOU UM PAPEL CRUCIAL